Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Hoje li uma notícia sobre uma sessão que decorreu no Instituto de Investigação e Inovação em Saúde na Universidade do Porto (i3S), em que o bioquímico britânico Paul Nurse esclareceu alguns dos mitos associados ao cancro e à sua prevenção. Este cientista recebeu o Prémio Nobel de Fisiologia e Medicina em 2001.
Nurse, nos anos 70, com recurso a células de levedura, descobriu como é controlado o ciclo celular em todos os organismos. Essa descoberta revolucionou o conhecimento sobre muitas doenças onde o ciclo celular está afetado, com grande impacto nas doenças humanas em que ocorrer proliferação descontrolada das células, como no caso do cancro.
Como concordo em absoluto com aquilo que Paul Nurse disse, vou partilhar convosco as duas ideias principais que ficaram deste encontro:
1. O bioquímico considera que um dos maiores mitos relacionados com o cancro “é pensar-se que se trata de uma única doença”. Realmente, podemos dizer que o cancro são várias doenças onde a reprodução celular está descontrolada. Se fosse uma doença única, seria mais fácil de controlar. Este descontrole é o principal fator que faz com que seja tão difícil tratar o cancro e que nos torna tão impotentes perante esta doença, que continua a ser assustadora.
2. Relativamente à prevenção, o “grande problema” identificado pelo cientista prende-se com o facto de, na comunidade científica, haver investigadores que utilizam somente a genética para estudar o cancro, enquanto outros estudam somente os fatores externos, quando, na realidade, “ambos são importantes e precisam de ser estudados juntos”. ”Não é suficiente saber muito sobre os genes ou sobre os fatores externos que podem levar a doenças, o que é mesmo importante é estudá-los juntos”, acrescentou.
Na realidade, quem fuma tem mais probabilidade de ter cancro do pulmão e isto é aquele fator externo que se pode controlar. Mas e quem não fuma? Pode também desenvolver cancro se a carga genética herdada dos antepassados vier com este “peso”. Também quem se expõe ao sol, tem maior probabilidade de ter cancro de pele, o que não exclui a 100% aqueles que têm uma exposição solar responsável.
A juntar aos factores externos e à carga genética, vem outra realidade: “de todas as vezes que uma célula se divide e se reproduz, ocorrem erros”, o que vai decorrendo “ao longo da vida de todos os seres humanos. Consoante se vai envelhecendo, esses danos podem acumular, não havendo nada que se possa fazer acerca disso. Só o facto de estarmos vivos vai resultar em danos nos genes que podem provocar cancro e, quanto mais tempo vivemos, maior a probabilidade de ocorrerem incidentes”, notou o investigador britânico, que trabalhou no Imperial Cancer Research Fund (atualmente Cancer Research UK), do qual se tornou director em 1996.
De acordo com tudo o que foi dito e apesar dos grandes avanços no tratamento do cancro, segundo Paul Nurse, “o cancro nunca poderá ser erradicado”. Podemos controlar os fatores externos, mas é impossível controlar a herança genética recebida e continua a ser difícil controlar a divisão celular.
A grande esperança está no controle desta divisão celular, principalmente através da “manipulação do sistema imunitário”.
Prometo voltar a este assunto amanhã.